terça-feira, 27 de setembro de 2016

de ação
em ação
provenho

de antemão
garantindo

de metade
em metade

o suficiente
pra manutenção
da minha próxima necessidade

(Erick Amancio)

terça-feira, 2 de agosto de 2016

esse caos existencial
que por instantes
me separa

da engrenagem mecânica
que outros
operam

da ferramenta humana
que poucos
controlam

no design moderno
dessa prisão
interna


(Erick Amancio)

domingo, 17 de abril de 2016

Fauna disfuncional

um enxame de gente
o Vidigal visto de Ipanema
marimbondos inteligentes
quando descem são um problema

pessoas amontoadas
vivendo empoleiradas
são aves que não têm asas
em prédios enclausuradas

como toupeiras embaixo da terra
vão de lá pra cá bem rápido
mas pra baixada não, quem dera
só supervia e busão lotado

cadê os rios? os terrenos baldios?
a praga já se alastrou
não tem mais lugar vazio
nossa colmeia abarrotou

bicho homem, animal insano
mais selvagem que humano
vive chamando de progresso
o crescimento dos seus excessos

dizemos que estamos no topo
da cadeia alimentar
mas pra cadeia mandamos o outro
que furtou pra se alimentar

(Erick Amancio)

quinta-feira, 31 de março de 2016

Falta e Fartura

estamos fartos
da fartura de poucos
sob a fadiga
de todos os outros
a quem falta de tudo

poucos fartos
descansando nos fatos
do Estado
(de coisas)
que falta aos fatigados

quem não se farta
buscando sair da falta
servindo fatigadamente
a quem descansa farto
se faz servo

quem não sente falta
justifica os fatos
na falta de esforço
de quem serve os pratos
da sua mesa farta

e mantêm-se os fartos
no sono cansado
dos fatigados
que levantarão um dia
revoltados

(Erick Amancio)

quarta-feira, 9 de março de 2016

Poema metalinguístico

escrevo um verso
minha sina
depois completo
com a rima

escrevo
outra
estrofe

depois
outra

e a contagem silábica
deixo solta

a métrica
deixo pra lá
o que interessa
é rimar

os versos são curtos
mas caguei
quem prolonga demais perde o tempo da rima tornando a coisa bem chata pra quem lê

fiz menção aos dejetos
eu sei
minha poesia
não tem polidez

escrevo ao contrário
"a rima"
e ela se torna
"a mira"

aproveito o ensejo
e aponto
na mira vejo
a fachada de um banco


(Erick Amancio)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

De Dentro

angustiado
por não ter
como compartilhar
as impressões
e as emoções
com alguém
além de mim

contento-me
em dividir
hora aqui
outra ali
com você
ilusões

é raro ver
alguém acessar
para além do especular
de outro alguém
o interior

acontece
no amor

(Erick Amancio)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Inquietude

eu não sirvo pra esse mundo
peça fora da engrenagem
resistindo ao fluxo funcional
nadando contra a corrente
outrora posto em fogueira ardente

vejo em mim contradição
o que percebo de um lado
do outro o que me foi talhado
desse choque angustiante
analiso as impotências

minto pra mim mesmo
até que esqueça que não há verdade
e incorpore mentiras no ser
buscando alcançar sem crer
meu ideal metafísico

me constituindo para não desintegrar
desses retalhos de convicções
copiando novos valores
aceitando e experimentado dores
descartando e absorvendo certezas

busco equilibrar meu universo
com o universo de quem me afeta
hora abismo nos separa
hora sincronia rara
a instabilidade como regra

e nesse vai e vem inconstante
fluidez incessante
transbordo em desapego
da necessidade de entender
abrindo caminho ao riso
momento de real compreensão
pura e simples intuição
do corpo

(Erick Amancio)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Inventos

parado em um só mil momentos
saciando a vontade de vislumbramento...

mesmo na coisa mais banal
retirada às pressas do lugar comum
pra não deixar no registro nenhum
pensamento de origem real

a forma apreendendo sons em si
que os ouvidos das almas sebosas
que nunca escutaram as pétalas de rosas
não podem parar pra ouvir

numa cela fabricando sentimentos
com os dedos que apontam pra outros momentos
que vagam sem morada na linha do tempo
que tentam sair mas estão presos por dentro

passando por mil único tormento
caindo verdades perante inventos...

verso versus verso
dizendo o inverso
do lado avesso
se fala o certo

no início era o verbo
no meio o veto
no fim retrocesso


(Erick Amancio)

sábado, 16 de janeiro de 2016

Poema de Adriel Vargas (sem título)

Enlatadas. Mentes e corpos
Inchadas. Juntas e desejos
Anseio o fim do dia
No bocejo em que inicia.

No trem, em pé, o trabalhador dorme
Crítica consciente, nele espera-se
Que assim se forme

Precário. Trabalho. Salário.
Rotina de vida de um não presidiário
Preso no rotineiro processo da lida
De render bons lucros ao nobre empresário

Liberdade assistida. Assistência garantida
Pela labuta sofrida. História de vida.
Não contada nem pensada
Apenas fluída. Esquecida. Contida
No pão nosso de cada dia, nos dai hoje
Agora e até a hora
De nossa morte. Talvez tenhamos sorte
Aos domingos esporte
A poltrona e o chima
Na segunda voltamos à lida
No sábado voltamos à rima.