quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Inquietude

eu não sirvo pra esse mundo
peça fora da engrenagem
resistindo ao fluxo funcional
nadando contra a corrente
outrora posto em fogueira ardente

vejo em mim contradição
o que percebo de um lado
do outro o que me foi talhado
desse choque angustiante
analiso as impotências

minto pra mim mesmo
até que esqueça que não há verdade
e incorpore mentiras no ser
buscando alcançar sem crer
meu ideal metafísico

me constituindo para não desintegrar
desses retalhos de convicções
copiando novos valores
aceitando e experimentado dores
descartando e absorvendo certezas

busco equilibrar meu universo
com o universo de quem me afeta
hora abismo nos separa
hora sincronia rara
a instabilidade como regra

e nesse vai e vem inconstante
fluidez incessante
transbordo em desapego
da necessidade de entender
abrindo caminho ao riso
momento de real compreensão
pura e simples intuição
do corpo

(Erick Amancio)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Inventos

parado em um só mil momentos
saciando a vontade de vislumbramento...

mesmo na coisa mais banal
retirada às pressas do lugar comum
pra não deixar no registro nenhum
pensamento de origem real

a forma apreendendo sons em si
que os ouvidos das almas sebosas
que nunca escutaram as pétalas de rosas
não podem parar pra ouvir

numa cela fabricando sentimentos
com os dedos que apontam pra outros momentos
que vagam sem morada na linha do tempo
que tentam sair mas estão presos por dentro

passando por mil único tormento
caindo verdades perante inventos...

verso versus verso
dizendo o inverso
do lado avesso
se fala o certo

no início era o verbo
no meio o veto
no fim retrocesso


(Erick Amancio)

sábado, 16 de janeiro de 2016

Poema de Adriel Vargas (sem título)

Enlatadas. Mentes e corpos
Inchadas. Juntas e desejos
Anseio o fim do dia
No bocejo em que inicia.

No trem, em pé, o trabalhador dorme
Crítica consciente, nele espera-se
Que assim se forme

Precário. Trabalho. Salário.
Rotina de vida de um não presidiário
Preso no rotineiro processo da lida
De render bons lucros ao nobre empresário

Liberdade assistida. Assistência garantida
Pela labuta sofrida. História de vida.
Não contada nem pensada
Apenas fluída. Esquecida. Contida
No pão nosso de cada dia, nos dai hoje
Agora e até a hora
De nossa morte. Talvez tenhamos sorte
Aos domingos esporte
A poltrona e o chima
Na segunda voltamos à lida
No sábado voltamos à rima.