sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Botão de Flor

se até numa terra
destruída pela guerra
entre escombros e pedras
nasce um botão de flor,
por que não deveria
minha poesia
nascer da revolta
do ódio
e da dor?

(Erick Amancio)

domingo, 22 de novembro de 2015

Olorum Ekê

(Solano Trindade)

Olorum Ekê
Olorum Ekê
Eu sou poeta do povo
Olorum Ekê 
A minha bandeira
É de cor de sangue
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Da cor da revolução
Olorum Ekê 
Meus avós foram escravos
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Eu ainda escravo sou
Olorum Ekê
Olorum Ekê
Os meus filhos não serão
Olorum Ekê
Olorum Ekê

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Impotência

Dei cabo da minha vida
pra modificar a minha essência,
condenando quem abriu a ferida,
transformei a dor em evidência.

A que ponto eu cheguei
tentando recomeçar:
bem no ponto de partida
me vi depois de tanto andar.

E nadando contra a corrente
mas parado no mesmo lugar,
me cansei de tanto esforço
só pra enchente não me levar.

Sem conseguir ir para frente
afoguei-me em desgosto,
mas a calmaria ausente
moldou em mim um novo rosto.

A impotência nesse mundo
limitou a luta em mim,
mas desistir é absurdo,
então faço do meio o meu fim.


(Erick Amancio)

domingo, 15 de novembro de 2015

Não Questione

Eis aqui a questão:
o trabalho engrandece ao homem
ou a quem ao homem consome
explorando até a exaustão?

A quem deus mais ajuda?
Quem cedo madruga
ou quem nasceu sem precisar
pra sobreviver madrugar?

Pra que serve tanta labuta
seguindo a ordem dada,
se no final dessa luta
morremos sempre sem nada?

Quando foi o fim da escravidão,
se hoje, como aquela gente,
trabalhamos sempre somente
pra conseguir o teto e o pão?

̶  Oh cidadão, não te esquece: o trabalho engrandece!
  Eu entendo o motivo da luta, mas deus ajuda quem cedo madruga!
  Por que a revolta? Não faça isso, o protesto deve ser pacífico!

(Erick Amancio)

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Mapas de asfalto

(Michel Yakini)

há tempos que o céu
das beiradas
acorda cinzento

as pedras ficam intactas
endurecendo vidas
pelas esquinas

a esperança passa
como ventania
pelas ladeiras

e o asfalto grita
denunciando
mentiras vencidas

são heranças de uma
cidade açoitada
em silêncio

nos mocambos de hoje
germina a resistência
do amanhã

em cada quintal
um trançado
autoestima se firma

no olhar da mulecada
vejo uma trilhas
sedenta de história

é batuque,
rodeando as intenções,
cravando horizontes

grafitando nos
muros, poemas
da nossa virada

declamando ação,
sacudindo vozes

e na espreita das ruas
ecoam as rimas
num versar ritmado de
redenção!

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Amor e Ócio


passo a boca pelos dois tons

                   da sua pele preta

passo os dedos pelos seus cachos

                   ajeitados antes em vão

passamos o dia assim deitados

                  e lá fora passam as horas

alheias ao passo do nosso amor


(Erick Amancio)

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Manguevibe

corpo cansado
mente anestesiada
ainda de embriaguez 
entre pontes e ladeiras
os problemas tão distantes
tudo o que sufoca, castra
limita meu eu em um ser
social

ser quem nem sei que sou
quem não posso ser
quem dizem que devo ser
o que devo fazer
tão distante no tempo
como o carnaval do ano que vem
tão perto no espaço
que presto testemunho em poesia
saindo de um coração confuso
que sente a hora da mudança
de curso

um rio e suas curvas desviando
já que a pedra 
sempre esteve no meio do caminho
estática (mas não eterna)
como tantas certezas
e ciências (muletas)
que chamamos verdades
rochas tão fortes
mas que num tempo maior do que nós
o vento corrói
devagarzinho

mas por hora
maracatu, frevo, afoxé
ciranda, coco, baião
xero de voinha
macaxeira, girimum
começar com oxe e terminar com visse
saudades dos novos amores
saudades dos velhos amigos

(Erick Amancio)